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quinta-feira, 27 de junho de 2013

26- PEÇA DE LITERATURA

Ocorreu um trabalho de literatura da escola, e vou ta postando aqui para meus colegas de sala poderem ler suas falas, disponibilizo também para os leitores conhecerem a peça.

PEÇA DE LITERATURA – FLOR DE GUERNICA

Essa é uma peça teatral escolar baseada no capitulo 2 do livro do autor presente na sala de aula Pablo moreno que se chama Flor e Guernica. A peça é melo poética e traz aspectos das sete crônicas encontradas no livro.

Personagens:
Estranho: Arthur
Homem: Jorge
Médico: Djian
Assaltante: Lucas
Filho do Estranho: Filipe
Pai preocupado: Lucas
Filho do pai preocupado: Djian
Dorothy Stang: Filipe
Assasino1: Lucas
Assasino2: Djian
Atendente: Filipe
Rapaz que roubou a criança: Djian

Cena:
(Um homem encontra-se em um hospital no hall de espera. Ele esta apreensivo andando de um lado para outro, suspira olha pra cima, da meia volta, e senta novamente. O médico entra em cena olhando fixo pra prancheta, ele olha seriamente para o homem põem a mão em seu ombro e diz).
- Médico-(Djian) : Sinto muito ela não resistiu aos ferimentos..
(Médico sai de cena com pesar)
(O homem abaixa a cabeça em estado de choque e cobre o rosto com as mãos)
(Um estranho que assistiu a tudo se aproximou devagarinho perto do homem, sentou-se e pôs a mão em seu ombro esquerdo)
- É difícil não é?
( O homem olha assustado para o estranho e pergunta um tanto curioso)
- Eu conheço o senhor?
- Não, não conhece... Mas nunca é tarde para se conhecer alguém.
- Não sei o que você quer, mas da pra me deixar em paz? Estou me sentindo péssimo, não vê que estou precisando ficar sozinho?
- Vi, é exatamente por isso que eu estou aqui, para poder lhe dar o que é seu de direito.
- E o que pode ser hein? Vai trazer de volta a minha perda? Ou quer me doar dinheiro? Não preciso de caridade senhor, sempre fui muito bem sucedido e...(INTERROMPIDO)
- Não, não... Não estou falando de coisas materiais, não tenha uma mente tão fechada.
- Então o que pode ser?
- Compaixão.
- Só pode ser brincadeira... (INDIGNADO) Olhe, eu acabei de perder uma pessoa importante para mim então se...
-Sua mãe sim eu sei...
- Mas como você sabe?
-Eu vi quando ela entrou por aquela porta.
(Silêncio na cena)
- Quantos anos ela tinha?
(O homem bufa, espera alguns segundos olha pro lado, mas decide responder)
- Ela tinha cinquenta e dois... Era tão jovem, coitada.
- Qual a causa-mortis?
- Ela morreu devido às queimaduras e inalação de fumaça... Sabe, eu não sei o que deu nela, disseram que quando a tiraram lá de dentro, ela estava descansando tranquilamente em sua cadeira de balanço...
- Talvez ela tenha tido motivos demais, ou de menos...
- Como assim?
- Você passava muito tempo com sua mãe?
- Não... Eu sempre estive muito ocupado com o trabalho, não conseguia dar toda a atenção para ela.
-Por isso mesmo. Ausentado, o filho não tem conhecimento dos problemas pessoais de sua genitora. Você pode nunca entender os propósitos dela, mas digamos que é como tentar despejar vários caminhões de sal em uma lesma gigante. Você a alimenta na esperança de cessar ela um dia... Mas é claro que isso não irá ocorrer não é? Então tudo vai se acumulando até queem certo dia, é como se te dissessem que os caminhões acabaram, e que a lesma não irá parar de crescer até te consumir por completo.  E de repente o raro clama para ser feito, e você se desapega de todas as: coisas, sentimentos humanos, pessoas e da sua própria vida. Você tem que entender que existem coisas que não podem ser feita mais de uma vez, como escovar os dentes, tomar banho, passar desodorante, comer, dormir. E quando o coração cresce descontroladamente para dentro como um chimarrão que implora pela feitura no chiar da chaleira, essas coisas ressoam baixinho, pedindo pelo ato, então ardemos de amor, queimamos de angustia e riscamos o fósforo. Nascendo e morrendo, acabando com a própria vida, e junto com ela, a lesma gigante... Eu realmente admiro sua situação, e realmente compreendo sua dor.
- Como pode me entender? Como pode tentar balancear a dor alheia? É muito fácil ter esse pensamento quando não é com você.
- Bem, eu tinha um filho de dezesseis anos... Ele sempre foi muito respeitoso, e dedicado, estudava e trabalhava ao mesmo tempo, tinha um futuro brilhante pela frente... Sabe por que tinha? Porque em um fim de tarde quando ele voltava de um dos seus cursos, ele foi abordado por um marginal, e o motivo... Isso mesmo, algo fútil e substituível como um tênis de marca, É obvio que apesar de injustiçado, ele entregou sem reação alguma os seus calçados, mas sabe o que aconteceu? O meliante disparou dois tiros no meu filho, puro ímpeto. E ele ficou atirado na calçada por horas, sem nenhum samaritano para ajuda-lo. Você falou sobre balancear as dores não é? Pois bem, nesse momento uma balança se fez entre meu filho e o tênis. Será que hoje em dia fabricam tênis tão pesados? Ou nossa humanidade se perdeu tanto que a vida simplesmente desvalorizou-se?
(Enquanto ocorre essa fala, Filipe representa o filho do estranho, e Lucas o marginal. Lucas assalta filipe e o “mata” fugindo com os tênis). 
- Me desculpe, eu... Eu não queria dizer isso. Eu não sabia mesmo... Mas porque esta me dizendo essas coisas?
- Porque a partir do momento que encontramos alguém com uma dor semelhante a nossa, nós estendemos a mão, desembrulhamos o nosso sofrimento e compartilhamos nossas dores para confortar um ao outro, é assim que funciona ou deveria funcionar.
(Entra pai (lucas) e filho (djian) em cena, o pai aparenta preocupado, o filho nervoso)
- Pai: O que você está sentindo?
- Filho: Aii... Pai, eu estou com o estomago embrulhado, não vou ao banheiro desde ontem, espero que não seja grave, ai...
(Os dois passam ao outro lado do palco e saem de cena)
- Estranho: E além da vida, aí está um bom exemplo de outra coisa que perdeu seu valor...
- Homem: O que quer dizer?
- A dor, ela não é mais natural, as crianças não estão preparadas para superarem ela, nem para amadurecerem com suas cruências interiores. Todos os dias, nós vemos: crianças, jovens, adultos e velhos se automedicando contra a tristeza, popularizam os analgésicos, estigmam a dor em anestesias e trocam frustrações por pílulas, amores por pílulas, sonhos e medos por pílulas, contas por pílulas, duvidas por pílulas, tudo por pílulas. Não se pode existir nem um pingo de dorzinha no horizonte, que já se acionam os helicópteros, soam os telefones dos pediatras e correm em direção ao hospital mais próximo... As benzedeiras são consideradas falsas, as parteiras perigosas e as mães ignorantes. Estamos passando por um avanço na cura do corpo, mas um retrocesso na cura do espirito, as crianças podem estar muito bem protegidas das cicatrizes físicas, mas me diga qual será o método para as dores que elas levarão consigo na alma?
- Pois é nisso você tem razão... O mundo mudou, eu me lembro de quando eu era apenas um garoto e minha mãe ainda jovem, a benzedeira sempre ficava mais perto do que o hospital, e como erámos em dez irmãos, se cada um chorasse cinco vezes, umas cinquenta idas à benzedeira por dia era certo (RISADA FRACA). Era um abraço e um assopro, assim como na criação de Deus, e tudo se curava ou quase tudo... Pois é as cicatrizes ficaram até hoje em mim, Como arte plástica no meu próprio corpo.
- Sim, somos parte de um passado esquecido, por sinal, você sabia que até o nome desse hospital representa o afronto a dor?
- O que? Hospital Dorothy Stang? O que tem esse nome?
- Dorothy fez um trabalho maravilhoso na Amazônia sabe, ajudou muita gente que vivia na miséria naquela região. Mas como não se podem agradar gregos e troianos, ela foi ameaçada de morte varias vezes por pessoas ricas que foram prejudicadas por seus projetos. E um dia em Anapu, aos seus 73 anos a senhora Dorothy passou dessa para um lugar melhor, assim como em “O mundo de Oz”, porém em uma viagem sem volta, e foi quando ela enfrentou com valentia os seis tiros a queima roupa lançados por dois homens, homens de lata que impetuosos a levaram ao chão, foi quando ela pegou sua viagem definitiva para além do arco-íris, como um sonho que vira realidade. Porém mesmo que ela caçasse bruxas e fadas em seu novo mundo, ajudasse espantalhos a terem cérebros, e leões a terem coragem, tem uma coisa que ela jamais conseguira fazer. Ensinar aos homens de lata desse mundo à como ter um coração de carne.
- O nome é em homenagem a essa senhora? Nossa, é uma história realmente triste, eu nunca imaginaria isso...
- Sim, as pessoas não costumam buscarconhecimento além do necessário.
(Ouvem-se murmúrios ao lado do palco, Entra em cenadjian com uma criança no colo)
Ele chega ao atendente (filipe) e diz preocupado:
- Moço, você tem que ajudar esse menino, ela esta sujo, um tanto machucado, pode até ter tétano, porém o pior de tudo é que ele já passou alguns anos de sua vida em meio ao lixo, sem aproveitar sua infância.
-Nós já o enviaremos pra emergência senhor, mas antes precisamos fazer um exame e um registro, qual o nome do seu filho?
- Ah bom eu não sei, ele não é meu filho, eu o vi na rua.
- Você está me dizendo que ele é órfão? Onde você o encontrou exatamente?
- Não, ele tem pais estava acompanhado deles, porém ao mesmo tempo não estava. Seus pais vasculhavam ferozmente o lixo, sem se importar com sua existência, enquanto ele distraído brincava com plásticos, latas tecidos e papel no meio das caixas criando no meio de uma realidade tão cinza um mundo tão colorido. Uma tampa de bule virava um avião em suas mãos, disquinhos de papel eram suas estrelas guias, um pedaço de papelão, virava um enorme escorregador, e tudo que for descartável para alguém pode ser mágico pra ele. Pensei em leva-lo para minha casa, mas minha casa é muito pequena, pequena demais para uma criança com um mundo tão grande. Então decidi traze-lo aqui, antes que chamassem a policia ou que a carroça de seus pais retornasse, me ajude moço a criar um mundo real para ele, onde ele nunca mais precise esfregar seus lábios em látex, enquanto o céu da sua boca sonha sabor de chocolate.
- Tenha calma, senhor. O garoto já será atendido, porém como a guarda do filho não é sua, terei que informar ao senhor que a criança não ficara mais em seus cuidados, será levada a uma instituição ou ao um orfanato.
- Mas vocês não podem fazer isso comigo, o garoto clama por meus cuidados, apenas eu entendo tudo o que ele necessita...
- Senhor aguarde sentado, por favor, sem transtorno ou terei que chamar a policia.
- (Transtornado) Ah..tu-tudo bem.. Como quiser, mas não sabe o erro que está cometendo.
(O rapaz segue em direção ao homem e ao estranho e senta em um dos vários bancos dali.)
(O estranho que a tudo observava com atenção vira para o homem e diz)
- Bom meu tempo acabou aqui, desculpa lhe deixar tão cedo, mas acho que já fiz o meu papel. Agora o resto é com você...
- O que? Como assim? Que resto?
- Vê aquela pessoa ali? Então não tenha medo, assim como um covarde teme o escuro. Porque a cegueira social, é a guarda entre a aparência superficial, e as coisas que realmente importam, então não tenha medo das verdades, não tenha medo do invisível à primeira vista, está na hora de desembrulhar seu medo, compartilhar sua compaixão, e ser o conforto de alguém. E lembre-se, que sempre no mais profundo escuro, sempre existirá uma luz no fim do túnel, assim como uma flor que desabrocha em Guernica.

Fim



Autor: Arthur Dobler