Ocorreu um trabalho de literatura da escola, e vou ta postando aqui para meus colegas de sala poderem ler suas falas, disponibilizo também para os leitores conhecerem a peça.
PEÇA DE LITERATURA – FLOR DE GUERNICA
Essa é uma peça teatral escolar baseada no capitulo 2 do livro do autor presente na sala de aula Pablo moreno que se chama Flor e Guernica. A peça é melo poética e traz aspectos das sete crônicas encontradas no livro.
PEÇA DE LITERATURA – FLOR DE GUERNICA
Essa é uma peça teatral escolar baseada no capitulo 2 do livro do autor presente na sala de aula Pablo moreno que se chama Flor e Guernica. A peça é melo poética e traz aspectos das sete crônicas encontradas no livro.
Personagens:
Estranho: Arthur
Homem: Jorge
Médico: Djian
Assaltante: Lucas
Filho do Estranho: Filipe
Pai preocupado: Lucas
Filho do pai preocupado: Djian
Dorothy Stang: Filipe
Assasino1: Lucas
Assasino2: Djian
Atendente: Filipe
Rapaz que roubou a criança: Djian
Cena:
(Um homem encontra-se em um hospital no hall de espera. Ele
esta apreensivo andando de um lado para outro, suspira olha pra cima, da meia
volta, e senta novamente. O médico entra em cena olhando fixo pra prancheta, ele
olha seriamente para o homem põem a mão em seu ombro e diz).
- Médico-(Djian) : Sinto muito ela não resistiu aos
ferimentos..
(Médico sai de cena com pesar)
(O homem abaixa a cabeça em estado de choque e cobre o rosto
com as mãos)
(Um estranho que assistiu a tudo se aproximou devagarinho
perto do homem, sentou-se e pôs a mão em seu ombro esquerdo)
- É difícil não é?
( O homem olha assustado para o estranho e pergunta um tanto
curioso)
- Eu conheço o senhor?
- Não, não conhece... Mas nunca é tarde para se conhecer
alguém.
- Não sei o que você quer, mas da pra me deixar em paz? Estou
me sentindo péssimo, não vê que estou precisando ficar sozinho?
- Vi, é exatamente por isso que eu estou aqui, para poder lhe
dar o que é seu de direito.
- E o que pode ser hein? Vai trazer de volta a minha perda?
Ou quer me doar dinheiro? Não preciso de caridade senhor, sempre fui muito bem
sucedido e...(INTERROMPIDO)
- Não, não... Não estou falando de coisas materiais, não
tenha uma mente tão fechada.
- Então o que pode ser?
- Compaixão.
- Só pode ser brincadeira... (INDIGNADO) Olhe, eu acabei de
perder uma pessoa importante para mim então se...
-Sua mãe sim eu sei...
- Mas como você sabe?
-Eu vi quando ela entrou por aquela porta.
(Silêncio na cena)
- Quantos anos ela tinha?
(O homem bufa, espera alguns segundos olha pro lado, mas
decide responder)
- Ela tinha cinquenta e dois... Era tão jovem, coitada.
- Qual a causa-mortis?
- Ela morreu devido às queimaduras e inalação de fumaça...
Sabe, eu não sei o que deu nela, disseram que quando a tiraram lá de dentro,
ela estava descansando tranquilamente em sua cadeira de balanço...
- Talvez ela tenha tido motivos demais, ou de menos...
- Como assim?
- Você passava muito tempo com sua mãe?
- Não... Eu sempre estive muito ocupado com o trabalho, não
conseguia dar toda a atenção para ela.
-Por isso mesmo. Ausentado, o filho não tem conhecimento dos
problemas pessoais de sua genitora. Você pode nunca entender os propósitos
dela, mas digamos que é como tentar despejar vários caminhões de sal em uma
lesma gigante. Você a alimenta na esperança de cessar ela um dia... Mas é claro
que isso não irá ocorrer não é? Então tudo vai se acumulando até queem certo
dia, é como se te dissessem que os caminhões acabaram, e que a lesma não irá
parar de crescer até te consumir por completo.
E de repente o raro clama para ser feito, e você se desapega de todas as:
coisas, sentimentos humanos, pessoas e da sua própria vida. Você tem que
entender que existem coisas que não podem ser feita mais de uma vez, como
escovar os dentes, tomar banho, passar desodorante, comer, dormir. E quando o
coração cresce descontroladamente para dentro como um chimarrão que implora
pela feitura no chiar da chaleira, essas coisas ressoam baixinho, pedindo pelo
ato, então ardemos de amor, queimamos de angustia e riscamos o fósforo.
Nascendo e morrendo, acabando com a própria vida, e junto com ela, a lesma
gigante... Eu realmente admiro sua situação, e realmente compreendo sua dor.
- Como pode me entender? Como pode tentar balancear a dor
alheia? É muito fácil ter esse pensamento quando não é com você.
- Bem, eu tinha um filho de dezesseis anos... Ele sempre foi
muito respeitoso, e dedicado, estudava e trabalhava ao mesmo tempo, tinha um
futuro brilhante pela frente... Sabe por que tinha? Porque em um fim de tarde
quando ele voltava de um dos seus cursos, ele foi abordado por um marginal, e o
motivo... Isso mesmo, algo fútil e substituível como um tênis de marca, É obvio
que apesar de injustiçado, ele entregou sem reação alguma os seus calçados, mas
sabe o que aconteceu? O meliante disparou dois tiros no meu filho, puro ímpeto.
E ele ficou atirado na calçada por horas, sem nenhum samaritano para ajuda-lo.
Você falou sobre balancear as dores não é? Pois bem, nesse momento uma balança
se fez entre meu filho e o tênis. Será que hoje em dia fabricam tênis tão
pesados? Ou nossa humanidade se perdeu tanto que a vida simplesmente
desvalorizou-se?
(Enquanto ocorre essa fala, Filipe representa o filho do
estranho, e Lucas o marginal. Lucas assalta filipe e o “mata” fugindo com os
tênis).
- Me desculpe, eu... Eu não queria dizer isso. Eu não sabia
mesmo... Mas porque esta me dizendo essas coisas?
- Porque a partir do momento que encontramos alguém com uma
dor semelhante a nossa, nós estendemos a mão, desembrulhamos o nosso sofrimento
e compartilhamos nossas dores para confortar um ao outro, é assim que funciona
ou deveria funcionar.
(Entra pai (lucas) e filho (djian) em cena, o pai aparenta preocupado,
o filho nervoso)
- Pai: O que você está sentindo?
- Filho: Aii... Pai, eu estou com o estomago embrulhado, não
vou ao banheiro desde ontem, espero que não seja grave, ai...
(Os dois passam ao outro lado do palco e saem de cena)
- Estranho: E além da vida, aí está um bom exemplo de outra
coisa que perdeu seu valor...
- Homem: O que quer dizer?
- A dor, ela não é mais natural, as crianças não estão
preparadas para superarem ela, nem para amadurecerem com suas cruências
interiores. Todos os dias, nós vemos: crianças, jovens, adultos e velhos se
automedicando contra a tristeza, popularizam os analgésicos, estigmam a dor em
anestesias e trocam frustrações por pílulas, amores por pílulas, sonhos e medos
por pílulas, contas por pílulas, duvidas por pílulas, tudo por pílulas. Não se
pode existir nem um pingo de dorzinha no horizonte, que já se acionam os
helicópteros, soam os telefones dos pediatras e correm em direção ao hospital
mais próximo... As benzedeiras são consideradas falsas, as parteiras perigosas
e as mães ignorantes. Estamos passando por um avanço na cura do corpo, mas um
retrocesso na cura do espirito, as crianças podem estar muito bem protegidas
das cicatrizes físicas, mas me diga qual será o método para as dores que elas
levarão consigo na alma?
- Pois é nisso você tem razão... O mundo mudou, eu me lembro
de quando eu era apenas um garoto e minha mãe ainda jovem, a benzedeira sempre
ficava mais perto do que o hospital, e como erámos em dez irmãos, se cada um
chorasse cinco vezes, umas cinquenta idas à benzedeira por dia era certo
(RISADA FRACA). Era um abraço e um assopro, assim como na criação de Deus, e
tudo se curava ou quase tudo... Pois é as cicatrizes ficaram até hoje em mim,
Como arte plástica no meu próprio corpo.
- Sim, somos parte de um passado esquecido, por sinal, você
sabia que até o nome desse hospital representa o afronto a dor?
- O que? Hospital Dorothy Stang? O que tem esse nome?
- Dorothy fez um trabalho maravilhoso na Amazônia sabe,
ajudou muita gente que vivia na miséria naquela região. Mas como não se podem
agradar gregos e troianos, ela foi ameaçada de morte varias vezes por pessoas
ricas que foram prejudicadas por seus projetos. E um dia em Anapu, aos seus 73
anos a senhora Dorothy passou dessa para um lugar melhor, assim como em “O
mundo de Oz”, porém em uma viagem sem volta, e foi quando ela enfrentou com
valentia os seis tiros a queima roupa lançados por dois homens, homens de lata
que impetuosos a levaram ao chão, foi quando ela pegou sua viagem definitiva
para além do arco-íris, como um sonho que vira realidade. Porém mesmo que ela
caçasse bruxas e fadas em seu novo mundo, ajudasse espantalhos a terem cérebros,
e leões a terem coragem, tem uma coisa que ela jamais conseguira fazer. Ensinar
aos homens de lata desse mundo à como ter um coração de carne.
- O nome é em homenagem a essa senhora? Nossa, é uma história
realmente triste, eu nunca imaginaria isso...
- Sim, as pessoas não costumam buscarconhecimento além do
necessário.
(Ouvem-se murmúrios ao lado do palco, Entra em cenadjian com
uma criança no colo)
Ele chega ao atendente (filipe) e diz preocupado:
- Moço, você tem que ajudar esse menino, ela esta sujo, um
tanto machucado, pode até ter tétano, porém o pior de tudo é que ele já passou
alguns anos de sua vida em meio ao lixo, sem aproveitar sua infância.
-Nós já o enviaremos pra emergência senhor, mas antes
precisamos fazer um exame e um registro, qual o nome do seu filho?
- Ah bom eu não sei, ele não é meu filho, eu o vi na rua.
- Você está me dizendo que ele é órfão? Onde você o encontrou
exatamente?
- Não, ele tem pais estava acompanhado deles, porém ao mesmo
tempo não estava. Seus pais vasculhavam ferozmente o lixo, sem se importar com
sua existência, enquanto ele distraído brincava com plásticos, latas tecidos e
papel no meio das caixas criando no meio de uma realidade tão cinza um mundo
tão colorido. Uma tampa de bule virava um avião em suas mãos, disquinhos de
papel eram suas estrelas guias, um pedaço de papelão, virava um enorme escorregador,
e tudo que for descartável para alguém pode ser mágico pra ele. Pensei em
leva-lo para minha casa, mas minha casa é muito pequena, pequena demais para
uma criança com um mundo tão grande. Então decidi traze-lo aqui, antes que
chamassem a policia ou que a carroça de seus pais retornasse, me ajude moço a
criar um mundo real para ele, onde ele nunca mais precise esfregar seus lábios
em látex, enquanto o céu da sua boca sonha sabor de chocolate.
- Tenha calma, senhor. O garoto já será atendido, porém como
a guarda do filho não é sua, terei que informar ao senhor que a criança não
ficara mais em seus cuidados, será levada a uma instituição ou ao um orfanato.
- Mas vocês não podem fazer isso comigo, o garoto clama por
meus cuidados, apenas eu entendo tudo o que ele necessita...
- Senhor aguarde sentado, por favor, sem transtorno ou terei
que chamar a policia.
- (Transtornado) Ah..tu-tudo bem.. Como quiser, mas não sabe
o erro que está cometendo.
(O rapaz segue em direção ao homem e ao estranho e senta em
um dos vários bancos dali.)
(O estranho que a tudo observava com atenção vira para o
homem e diz)
- Bom meu tempo acabou aqui, desculpa lhe deixar tão cedo,
mas acho que já fiz o meu papel. Agora o resto é com você...
- O que? Como assim? Que resto?
- Vê aquela pessoa ali? Então não tenha medo, assim como um
covarde teme o escuro. Porque a cegueira social, é a guarda entre a aparência
superficial, e as coisas que realmente importam, então não tenha medo das
verdades, não tenha medo do invisível à primeira vista, está na hora de
desembrulhar seu medo, compartilhar sua compaixão, e ser o conforto de alguém.
E lembre-se, que sempre no mais profundo escuro, sempre existirá uma luz no fim
do túnel, assim como uma flor que desabrocha em Guernica.
Fim
Autor: Arthur Dobler
Autor: Arthur Dobler
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