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sábado, 3 de agosto de 2013

31 - Ciclo da Vida

Uma pequena passagem sobre a vida, a morte, os sentimentos, as pessoas e tudo mais...
[Observação: Quando chegarem ao final experimentem voltar para o inicio, o texto em si é autoexplicativo]


..“No grande ciclo da vida”, existem certos momentos que as coisas não tomam o rumo certo, tudo começa a dar errado. E você se sente perdido em um labirinto escuro... Às vezes são causas pequenas: Uma briga com alguém, um atraso, uma rotina agitada e estressante...
Mas na grande parte o desespero emocional se dá por coisas importantes: Fins de grandes amores, um desemprego em longo prazo, vícios prejudiciais, doenças terminais e no meu caso... A morte.
Acredito que ninguém seja um eremita que more em uma caverna, e que todo mundo tem pelo menos alguém com quem desabafar de vez em quando, compartilhar os gostos, as vivências, a vida. Comigo não era diferente, eu achava que o conhecia há muito tempo, mas depois de tudo que aconteceu senti como se os cinco anos não fossem... Nada.
 Lidar com a morte de alguém pode não ser muito fácil, há quem consiga prosseguir a vida, levar isso como uma coisa natural por qual todos passam, mas existem pessoas emocionais demais que ficam em estado de choque por muito tempo, elas passam o dia chorando, seus estômagos negam comida, suas bocas negam diálogo, e seus corações negam contato com as pessoas.
 Perder alguém pode ser extremamente difícil pra quem se distancia da realidade. Lidar com a morte nos faz lembrar totalmente que somos apenas energia sólida, que um dia se está em pé e no outro se jaz ao chão. E o sofrimento que sentimos por estranhos e até por pessoas chegadas, só acontece quando nos colocamos no lugar delas, quando imaginamos suas dores em nós mesmos. Já parou pra pensar o quanto isso é desumano? As pessoas não tem compaixão por realmente se importarem umas com as outras... Elas têm compaixão por pena.
  Mas quem sou eu pra cobrar isso de alguém não é mesmo? Afinal somos criaturas falhas, fadadas a cair em arrependimento... E muitas vezes as reações de nossas mentes podem ser rápidas: Alguns se achegam aos seus parentes, outros ouvem músicas nostálgicas de tempos que trazem momentos felizes, tem quem repense na sua vida e refaça seus planos, mas existe sempre alguém que, cego pela perda, não encontra mais motivos pra continuar, não encontra... Nada. E na mais involuntária das ações, amarra uma corda no pescoço, aponta uma arma na cabeça, desliza a faca sobre os pulsos, se atira do lugar mais alto que puder.
 Por quê? Porque existem pessoas apegadas demais a sua sina, existem pessoas apaixonadas e ingênuas ao mesmo tempo, a ponto de não notarem, que a sua existência é autossuficiente. E então somos obrigados a vermos nos noticiários toneladas de tragédias, lágrimas de oprimidos, injustiças de minorias e um ciclo de ódio sem fim.
  Mas o meu caso foi um tanto diferente do habitual, não ouve choro, nem arrependimentos, nem adeus. A pessoa que me deixou sempre teve a saúde muito baixa, todos já esperavam que isso fosse acontecer uma hora ou outra, mas ninguém imaginava que uma leve picada poderia destruir um coração tão persistente.  Ele era sensitivo apesar de ser cético, ele deveria saber que não tinha muito tempo, ele vinha a muitos anos escrevendo um texto, quase um diário, com seus medos, suas alegrias, suas recordações e palavras transparentes para seus amigos. E quando ele se foi, observar que meu nome fora destacado em seu texto me fez sentir que minha amizade tenha ao menos valido muito para ele.

   E quando uma conhecida minha que já era bem próxima a ele me contou, eu já não sabia com reagir, não sei se foi um estado de choque ou uma extrema paz interior, realmente não me importo de ter sido insensível. E o porquê disso? Porque eu já sabia bem o seu instinto de Eutanásia, e sei que era isso que ele queria, sei que ele descansaria agora sem precisar sofrer nunca mais. E ele ter conseguido finalmente o que passou uma vida inteira almejando, me foi mais motivo de felicidade do que tristeza. E era assim que ele queria: ver após sua partida, apenas sorrisos. Porque as pessoas parariam para rever suas curtas e irrelevantes vidas e então poderiam correr atrás do que almejam com mais convicção.
    Mas o que mais me dói durante todo esse tempo é saber que enquanto eu estava às quatro da manhã sentado em minha cama, uma das pessoas mais importantes pra morria em uma cama de hospital. Sabe o que as pessoas dizem sobre sentir algo muito forte quando alguém que possui ligação com elas esta em perigo, prestes a perder seu espirito? Então, eu não senti... Nada. E a maioria costuma pensar que após esse impacto todos caiem em depressão, se desanimam e não mais vivem apenas se arrastam junto com os dias, mas isso também não é verdade. Apesar de eu não saber se depois de mais de meio ano eu ainda não tenha caído na realidade, mas por mais que eu ainda tenha essa indecisão, com certeza eu estou mais feliz do que quando recebi essa noticia, minha vida prosseguiu meus sonhos estão começando a se realizar, e eu encontrei alguém que compartilha da minha mente, dos meus ideais e do meu coração, assim como ele compartilhava.
   E o mais interessante, é que essa pessoa, foi à mesma pessoa que por obrigação de amiga venho me dar à notícia da partida de quem outrora era meu melhor amigo. As conversas foram e vieram, e descobrimos que nossos destinos estavam interligados assim como uma teia de aranha... A vida tem um jeito metafórico e artístico de acontecer, e isso que é o engraçado nela. Uma mão pode se estender de quem você menos espera.

   E a sua visão que antes escurecida já havia perdido as esperanças, agora encontra um novo motivo pra prosseguir. A sua montanha russa de emoções se alterna ao passar do tempo, e parece que todas as coisas ruins que aconteceram se compensam, para no futuro quem sabe acontecerem novamente, como em um círculo. Então não se preocupe com a sua morte, apenas viva, ame e preste atenção nas oportunidades. Porque, por mais que você pense que sua vida seja uma trajetória reta, ela dá voltas, assim como....

Um comentário:

  1. Chorei no final do texto.. Apesar de nunca ter conhecido ele, sua morte me abalou. E pensar que uma picada de mosquito traria tanta tristeza :/

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