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terça-feira, 13 de agosto de 2013

32- Operários Burgueses

Personagens:
- Eduardo: Arthur Dobler
- João: Jorge Jr
- Augustus Santana: Djian Lucca
- Inspetor Jefferson: Lucas Impini pinto
- Edição de texto e trajes: Filipe Minotto

(Dois operários se encontram em uma fábrica de casacos um deles se encontra com botões ao seu redor, quando diz):
EDUARDO: Olha João... Eu estava aqui pensando com os meus botões... (pega os botões na mão) Já imaginou se a gente tivesse vida de burguês?
JOÃO: Como assim homem de deus?
EDUARDO: Ué como assim “como assim”? De que forma eu poderia estar falando se não sobre a mamata da vida burguesa João? Eles são ricos, não trabalham, tem status social, e o mais importante... Usam meias importadas! O que mais alguém podia querer?
JOÃO: Não Eduardo, você está sendo muito ganancioso... Acho que eu não preciso dessa vida toda, estou feliz com meu emprego.
EDUARDO: Ah! “Tá” certo João, e você acha que eu tenho cara de otário pra acreditar nisso?
JOÃO: Olha Eduardo, eu não quero te magoar, mas pensando bem... Até que você parece meio..
EDUARDO: Foi uma pergunta retórica, seu imbecil!
JOÃO: Ah taaa.. Agora eu entendi.
EDUARDO: Também, mais burro que esses botões aqui ( mostra botões) Era de se esperar que não entendesse..
JOÃO: Ei burro não!
EDUARDO: Tá bem! Tanto faz, eu só acho que no fundo, bem no fundinho você também queria poder ser o dono dessa indústria toda não é?
JOÃO: Já disse que não Eduardo, que chatice...
EDUARDO: Ah João, olha pra você! Vestido desse jeito maltrapilho. Até hoje ninguém dessa indústria te presenteou com nenhuma peça de roupa, nenhum casaco descente... E OLHA QUE A GENTE TRABALHA EM UMA FÁBRICA DE CASACO, ENTÃO TEM CASACO PRA DEDÉU!
JOÃO: Ah, mas sou imune contra gripe, não preciso de casacos.
EDUARDO: (risos seguido de um suspiro) Ai João quem dera se fosse só isso né? A tua bota é emprestada, tua meia tá furada, tua calça é apertada, a tua camisa tá rasgada, a tua blusa desgastada, a tua cara mal lavada, e o teu...
JOÃO: (Interrompendo) CHEGA Eduardo! Tá bom, eu já entendi aonde você quer chegar... Acho meio materialista de sua parte, mas tudo bem.
EDUARDO: Materialismo João? Não viaja, não é materialismo quando o MEU amigo, perto dos outros funcionários PARECE UM MENDIGO! Eu apenas queria te ver bem vestido. Por isso pensei que você gostaria de ser “Ricaço”!
JOÃO: Pois se enganou meu caro, eu estou muito feliz aqui sabe? Acho até que é muito pra mim. Minha família veio lá do fim do mundo. E quem nasce nos campos, poucas chances têm de ser alguém na vida. Apesar do “papai” e da “mamãe” quererem que eu os ajudasse com a enxada, eu preferi fazer a minha parte na história, e usar a chave de fenda para servir a indústria, então realizei um êxodo pra cá! Foi difícil, mas com sua ajuda estou aqui hoje trabalhando forte e firme, enchendo de orgulho aqueles que um dia me botaram nesse mundão. Por isso eu acho que...
EDUARDO: (ENORME BOCEJO) Já terminou?
JOÃO: QUE FALTA DE RESPEITO EDUARDO!
EDUARDO: Falta de respeito é você sendo chato, bicho grilo. Quando você começa a abrir a boca pra falar abobrinha é desrespeito aos meus ouvidos!
JOÃO: Seu grosso... (voltam a trabalhar)
EDUARDO: NÃO, MAS SÉRIO... Você NÃO PENSA NEM UM POUQUINHO?
JOÃO: Não Eduardo... Eu já te disse.
EDUARDO: Mas então você acha justo, as coisas continuarem como estão?
JOÃO: Bem eu...
EDUARDO: A gente se mata mais de oito horas diárias, pra chega um filho de papai e não precisar fazer nada? 
JOÃO: Ah Eduardo, mas você sabe que não é bem assim... Mexe muito com administração. Tem que ter cabeça pra negócios e...
EDUARDO: Ah me poupe João, até minha falecida vó, com todo respeito, administra essa joça melhor que esses caras.
JOÃO: Então porque você não herdou uma multinacional da sua vó, hein?
EDUARDO: Porque ela preferiu ficar tricotando invés de mexer a bunda gorda dela. E é nesse ponto que eu quero chegar JOÃO! A sociedade é imóvel, estática. Você pode não estar percebendo, mas agindo desse jeito você esta fazendo parte de uma sociedade que não pensa. E se você por acaso tivesse a oportunidade, você ia agir e mudar a história? Ou iria querer ser que nem a minha avó?
JOÃO: Gordo e ranzinza? (risos)
EDUARDO: Olha quem decidiu ficar engraçadinho agora! Sinal de que parou pra repensar, certo?
JOÃO: Ah Eduardo, sei lá. Talvez se o acaso permitir.
EDUARDO: Pois pode me chamar de acaso meu querido, porque eu vou tornar isso possível João! É isso aí eu estou gostando de ver, preciso de gente com atitude como você... (sobe no banco) VAMOS REVOLUCIONAR A INDÚSTRIA! Chega dessa hierarquia toda para a destinação da mão de obra. O proprietário tem que merecer por direito! Vamos deixar de ser assalariados (sobe na mesa) Vamos mostrar pra esse patrão salafrário do que somos feito, vamos desbancá-lo, ultrapassá-lo, vamos ser a última Coca Cola da lavanderia!
JOÃO: O que é Coca-Cola?
EDUARDO: Produto de rico que lançou há pouco tempo, serve pra desentupir pia e vaso, genial!
JOÃO: Isso deve ser tóxico...
EDUARDO: E se for João? Não é como se as pessoas fossem beber isso... Enfim voltando ao foco.
(João presta atenção)
EDUARDO: Uma andorinha só não faz verão certo?
JOÃO: Certo... Mas você acha que duas fazem?
EDUARDO: Não, e é aí que eu pensei... “O que é melhor do que a voz do povo para resolver as coisas”, não é mesmo? Se juntarmos a galera toda desse setor, não precisa ser a indústria inteira, mas uma boa parcela que possa prejudicar a produção... A gente podia fazer uma enorme greve... Ou melhor, um MOTIM!
JOÃO: Ah Eduardo, um motim? Isso não é meio antiquado?
EDUARDO: “Antes de quadro” ou “depois do quadro” não importa meu amigo, sempre funciona! Não há nada melhor que uma rebelião pra descentralizar o poder. Ainda mais se o poder tá nas mãos desse Senhor “Augustus Santana”, esse arrogantezinho de nariz empinado, esse aproveitador de empregados, esse explorador insensível, esse ditador...
JOÃO: Eduardo, você tá muito boca dura cara.
EDUARDO: O que quer dizer? 
JOÃO: Que você está falando muito e fazendo pouco...
EDUARDO: E porque você está pensando isso? Eu falo, mas é muito sério, pretendo fazer tudo isso ainda hoje!
JOÃO: Então é bom você descer desse banco, começar a espalhar a noticia e botar a boca no trombone, aliás, se odeia tanto o chefe você devia ir falar tudo isso, Óh é na cara dele! Porque você reclamou tanto do Augustus pelas costas hoje que a orelha dele deve tá vermelha-pimenta já!
EDUARDO: Ah você não entende nada de momentos históricos não é mesmo? O líder das rebeliões tem que estar sempre em um lugar alto para que todos os admiradores possam o ver.
JOÃO: Desse jeito o único que “vai te ver” é o inspetor Jefferson.
EDUARDO: (repulso) Ah, esse é outro que me dá embrulho no estômago, quando eu for o dono dessa “Bagaça”, ele vai ser o primeiro a ir pra rua. Esse puxo saco de superiores... Aliás eu já falei o que eu acho do nosso patrão?
JOÃO: (Se vira rápido e volta a trabalhar)
INSPETOR: (aparece de repente na cena atrás de Eduardo) Não Eduardo, eu não ouvi ainda, você podia me dizer a sua opinião sobre o nosso regente? (O inspetor dizia enquanto segurava um bloco de anotações) Até porque eu não tenho nenhum registro seu aqui nessa indústria.
EDUARDO: Bom... É que... Eu. (pensativo) Estava dizendo que o Augustus Santana é um excelente chefe, sempre pensa nos trabalhadores, faz ótimos investimentos para empresa, e se projeta muito para o futuro, imagina sempre o que vem a sua frente. (enquanto Eduardo dizia isso, João ria por dentro)
JOÃO: (se vira segurando muito o riso) Ele também estava dizendo do quanto ele gosta de trabalhar nessa indústria!
INSPETOR: Isso é verdade Eduardo?
EDUARDO: Sim, isso mesmo eu disseque trabalho todos esses anos por que adoro esse lugar, eu passo todos os meus dias, muito feliz aqui, e o salário? Sempre sobra no fim do mês.
INSPETOR: Uhumm *fala enquanto anota* E posso saber por que você tá em cima desse banco? Dava pra ouvir sua voz do outro corredor.
EDUARDO: Bem é que eu estava faland...recla..tro-trocando isso, trocando a lâmpada que queimou e o João é meio sensível visualmente e não consegue ver esses botões todos sem luz não é mesmo (rindo nervoso enquanto desce do banco).
JOÃO: Mas o meu setor é o dos...
EDUARDO: CALA A BOCA (sussurrando)
INSPETOR: Claro, claro troca essa lâmpada logo e voltem a trabalhar, vocês não são pagos pra ficarem procrastinando em cima dos bancos (sai da cena).
(João trabalha enquanto Eduardo anda de um lado pro outro resmungando)
EDUARDO: Droga, Eu cansei dessa palhaçada!
JOÃO: Na verdade eu estou é achando muito divertida hahaha.
EDUARDO: “Ai! O meu amiguinho achou engraçado o inspetor me metendo à bronca”, pois saiba que se não parar de piadinha arrebento a tua fuça!
JOÃO: Também não precisa ser tão violento né Eduardo, guarda isso pro patrão hahaha.
EDUARDO: É vai rindo, abobado... Quando for eu sentado na cadeira estofada não vem beijar meus pés.
JOÃO: Com esse chulé bravo que eu sinto de segunda a sexta, beijar seus pés com certeza é uma das coisas que eu quero evitar.
EDUARDO: Pois é, santo Deus. Não basta trabalhar como um condenado, ganhar uma merreca, ter um patrão arrogante e um andarilho de corredores muito do pela-saco, o meu próprio amigo, e colega de trabalho, tem que ficar zombando de mim também, Porra João ATÉ TU BRUTUS?
JOÃO: Sem “vitimização” agora tá Eduardo? Eu já disse que vou te ajudar nessa situação. Então me deixa aproveitar seus últimos momentos como operário da empresa “Casacos e Cia”.
EDUARDO: Agora sim botei fé! Isso mesmo João, me ajuda com essa parada que com certeza você só vai se “dar” bem... Pra começar precisamos de chantagem, é o método mais eficaz pra se convencer alguém.
JOÃO: Mesmo é?
EDUARDO: Sim, eu estou sempre usando com as pessoas, tanto diretamente quanto indiretamente.
JOÃO: PERAÍ... Você já me chantageou sem eu saber? (pergunta sério)
EDUARDO: Não... Eu? Não... NÃOOOO (diz disfarçando) Enfim preciso de um podre do nosso novo patrão.
JOÃO: Ué, você não sabe? (diz indignado)
EDUARDO: Não, saber eu sei. Estou te falando isso pra gente decidir qual dos podres é pior, entendeu?
JOÃO: Ah tá. Bom, pra começar ele não tem experiência nenhuma, né?... Então é bem o que você disse até agora, “herdeiro filhinho de papai”. O segundo é que ele aumentou o dobro das taxas do custo das manutenções maquinarias, e não tem fundos suficientes pra cobrir isso, ou seja, ele está usando da nossa grana suada pra pagar o concerto dessas drogas (aponta pras maquinas). E o terceiro: Ele tem o dedo frio pra caramba, as escolhas que ele faz e as ações em que ele investe não estão dando retorno nenhum, nesse ritmo vamos acabar indo pelo ralo. Se antes o gráfico de estatísticas da Indústria parecia uma rampa, agora parece um “Bungee Jumping”!
EDUARDO: Bom, bom saber... Aliás, João... Você sabia de tudo isso e até agora não fez nada a respeito? Você tem MUITO potencial, potencial suficiente pra ser... (pausa) Vice-presidente dessa cooperação!
JOÃO: (sem jeito) Ah, não foi nada... Apenas procuro ser um cara Informado.
EDUARDO: E você é popular aqui nessa etapa inicial de produção de casacos?
JOÃO: Você quer dizer, se eu conheço todo mundo?
EDUARDO: É...
JOÃO: Sim, conheço desde você, até a área do Juca.
EDUARDO: Poxa! Até o Juca que fica lá do lado da porta de emergência?
JOÃO: Sim, sim conheço a Anastácia, o Gustavo, o Luís, o Luís Gustavo, a Julia, o Pedrão, a Carolzinha, o George, a..
EDUARDO: Tá bom, tá bom, eu já entendi que você muito sociável! Agora eu quero que você pegue todas as técnicas de persuasão que eu venho usando em você até agora, e aplique em todos eles. Improvise! Suba na mesa, saia gritando, sussurra aos ouvidos, faça comparações, zoe a empresa, você tem que os fazer verem que trabalham em um circo e que eles, são os verdadeiros palhaços! Crie Indignados e Revoltados, e até alienados que seguem o fluxo precisamos de massa de manobra, barulho, e é pra já! Eu vou indo agora pra ir lá falar com o chefe... (indo por um lado).
 JOÃO: Mas Edu...
EDUARDO: Não venha com “mas” agora João! Não vai me impedir estou indo a sala dele e...
JOÃO: É que esse...
EDUARDO: E vou voltar de lá juntamente com nossa vitória!
JOÃO: PORRA EDUARDO!
EDUARDO: O que foi dessa vez?
JOÃO: É que a sala do chefe fica pro outro lado sua anta! (aponta pra direção oposta)
EDUARDO: Ah claro sim, sim! Eu vou por aqui e você vai por lá e no vemos na porta do escritório dele depois. (cada um sai de cena por um lado)



(Encontra-se na cena o inspetor e o Augustus Santana)
AUGUSTUS SANTANA: E então fez o que te pedi?
INSPETOR: Sim está tudo aqui anotado senhor!
AUGUSTUS SANTANA: Oh, muito bem (pega o caderno e da uma olhada lendo atentamente)
INSPETOR: E então o que você pretende fazer?
AUGUSTUS SANTANA: Eu lhe pedi essa lista porque eu preciso realizar algumas demissões
INSPETOR: Ah foi por isso que você pediu as características de trabalho de cada funcionário agora faz sentido, e que conclusão você chegou?
AUGUSTUS SANTANA: Parece que eu vou ter que demitir... (pausa) Alguns “Eduardos”...
INSPETOR: O Eduardo? Mas eu achei que eu tinha escrito tudo que ele disse sobre você aí, ele gosta do emprego e acha você um excelente patrão...
AUGUSTUS SANTANA: Pois é e teve mais alguém com essa característica?
INSPETOR: Bom, não senhor, mas é que...
AUGUSTUS SANTANA: Por isso mesmo, posso não ser muito bom nas finanças, mas não precisa ser um gênio pra saber que nenhum ser humano normal que tenha essa carga horária e esse salário precário, vai ter um desempenho e uma opinião positiva dessas. Ele está tramando alguma... Tenha certeza disso.
INSPETOR: Então o que pretende fazer agora?
AUGUSTUS SANTANA: Pretendo não, eu vou fazer. Chame o Eduardo da Rocha agora mesmo, vou despedi-lo.
INSPETOR: (pausa) Err... Sim, tudo bem senhor.
(Alguém bate na porta)
AUGUSTUS SANTANA: Quem é?
EDUARDO: Eduardo Rocha se apresentando senhor, nós precisamos conversar!
INSPETOR: Ele está mesmo aqui...
AUGUSTUS SANTANA: Viu? Eu lhe falei, que bom que ele veio por conta própria, economizo tempo, pode se retirar agora Inspetor Jefferson.
INSPETOR: Sim senhor. (abre a porta e sai de cena encarando o Eduardo)
(Eduardo vai se aproximando do Senhor Augustus Santana lhe apontando o dedo)
EDUARDO: Olá Senhor Augustus! Vim aqui para...
AUGUSTUS SANTANA: Eduardo, você está demitido. (fala em tom breve e sério)
EDUARDO: ...Mas, mas... Droga! (pausa) Essa era a minha fala, pensei no meu diálogo com o senhor por minutos e agora isso.
AUGUSTUS SANTANA: O que quer dizer com isso?
EDUARDO: Ué? Se você falou que eu estava demitido e eu disse que essa era a minha fala... Eu ia te demitir, né!
AUGUSTUS SANTANA: Isso não faz o menor sentido. Primeiro, eu não trabalho pra você. Segundo: você não tem mais nada a ver com o “Casacos e Cia”. Por favor, se retire (vira-se de costas)
EDUARDO: Não, eu acho bom você se retirar!
AUGUSTUS SANTANA: Você ainda está aqui? Olha se você não quer sair por bem, vai sair por mal então.
EDUARDO: Pois tente.
AUGUSTUS SANTANA: (pega o Walkyman) Guardas! Quero que venham até minha sala agora.. Respondam! Alô? Alô?
EDUARDO: (risada maliciosa)
AUGUSTUS SANTANA: O que você fez desgraçado?
EDUARDO: “Viva la Revolución”! Está ouvindo os gritos ali fora? São todos os funcionários insatisfeitos com a sua regncia, se não podemos ter nossa própria mão de obra, tomamos ela com nossas próprias mãos que usamos para fazer obras... (para pra pensar no que disse) Nossa isso soou poético!
AUGUSTUS SANTANA: Isso é crime estadual! Eu vou colocar todos vocês na cadeia! Vocês não tem direito nenhum aqui, são apenas peões desse tabuleiro.
EDUARDO: Não mais meu amigo, os trabalhadores acordaram e você vai dormir agora.
AUGUSTUS SANTANA: Ah não vou não, Você pode ter conseguido pessoas do seu lado, mas eu posso demitir todos e recontratar novamente, ou melhor, vou vender essa fábrica pra qualquer gringo idiota!
EDUARDO: Ah meu amigo eu sei de seus podres, você está encurralado.
AUGUSTUS SANTANA: Não sei do que está falando.
EDUARDO: Corrupção meu caro, isso sim é crime estadual. Desvio de verbas, redução do salário mínimo para os trabalhadores, taxas abusivas, jornada de trabalho excessiva e situação precária em todos os setores de produção dessa indústria. Isso te deixava no mínimo umas duas décadas no xadrez, ou zerava a sua conta bancária meu chapa, você está contra a parede agora.
AUGUSTUS SANTANA: Não, não pode ser...
EDUARDO: Cheque mate!  Agora você tem duas opções, assine as papeladas ou mofe na cadeia.
AUGUSTUS SANTANA: Tudo bem eu assino, eu assino. Maldito... Raposa esperta, eu nunca pensei que um simples operário pudesse ir contra o dono de sua indústria... Que humilhação (assinando os papeis). E agora?
EDUARDO: Agora você tem duas opções: Ou sair por aquela porta e nunca mais voltar, ou ser “promovido” ao homem que traz o cafezinho. Caso sua escolha seja a segunda você tem 10 minutos pra me trazer um café expresso bem forte com chantilly e uma cereja em cima. HAHAHA.
AUGUSTUS SANTANA: Maldito, desgraçado, Você vai pagar. Pode ter vencido agora, mas eu tenho muitas filiais por todo país que eu herdei do meu pai! Vou crescer novamente então eu te destruo com minhas próprias mãos, essa não será a última vez que verá o burguês renomado Augustus Santana, filho de Paulo Borges Santana! Aproveite sua revolução patética. (sai de cena)


(Entra João na cena, Eduardo está sentado na cadeira estofada com os pés sobre a mesa)
JOÃO: MUITO BEM EDUARDO! Você tinha razão, vencemos! Conseguimos finalmente mudar essa realidade tão bruta!
EDUARDO: Pois é já pode começar essa nova etapa da empresa, beijando meus pés hahaha
JOÃO: HÁ-HÁ (ri sarcasticamente)
EDUARDO: Isso meu amigo é o poder da chantagem e da persuasão! Espero que um dia você aprenda a usar tão bem quanto eu!
JOÃO: Na verdade meu amigo, eu queria lhe dizer uma coisa. Você foi apenas uma alavanca pra tudo isso, pode até ser o ícone que represente o inicio dessa mudança no futuro, mas sem mim você não seria nada.
EDUARDO: (Se endireita na cadeira) Que história é essa agora, hein João? Foi um trabalho em equipe e.. .
 JOÃO: Equipe uma ova! Eu consegui convencer o povo todo a se revoltar, você tem ideia do quanto essa gente se contenta com pouco? Deus do céu, quanta alienação junta! E os guardas então? Aqueles caras tinham quase dois metros de altura. Sem contar que todos os podres que você soube do Augustus Santana fui eu quem lhe passei... Você acha que eu sou “informado” meu amigo? Sou muito mais que isso, eu tenho arquivos e informações confidenciais de qualquer um desse lugar, que vai do chefe até o faxineiro da rua, e isso obviamente inclui você. Pois bem, quem é a raposa agora meu caro, por trás de tudo isso?
EDUARDO: Não... Não pode ser... Tanto trabalho pra... Você não vai fazer isso comigo né João? Você?... Um cara tão humilde e...
JOÃO: Tem razão Eduardo, você é um bom amigo não vou te demitir dessa Indústria.
EDUARDO: Ufa.
JOÃO: Vou te dar duas alternativas, você pode sair por aquela porta e não voltar nunca mais, ou ir buscar o café...
EDUARDO: (PAUSA) Volto em dez minutos senhor. (sai resmungando mil coisas).
JOÃO: (Analisa os papéis sobre a mesa, estica seus pés, e olha para o palco como se avistasse toda sua cooperação de “Casacos e Cia”, dali) O tolo aprende errando, o sábio aprende com o erro dos tolos. E eu aprendi que... “Cia e Casacos” é um nome horrível deus do céu! “Olá eu sou João, dono da Casacos e cia” que horror, vamos começar mudando por aqui... E ali... Fazer assim e assado... (enquanto ele diz isso as cortinas vão se fechando)
FIM


Autor da peça: Arthur A. Dobler

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