Personagens:
- Eduardo:
Arthur Dobler
- João:
Jorge Jr
- Augustus
Santana: Djian Lucca
- Inspetor
Jefferson: Lucas Impini pinto
- Edição de
texto e trajes: Filipe Minotto
(Dois operários se encontram em uma fábrica de casacos um deles
se encontra com botões ao seu redor, quando diz):
EDUARDO: Olha João... Eu estava aqui pensando com os meus
botões... (pega os botões na mão) Já imaginou se a gente tivesse vida de
burguês?
JOÃO: Como assim homem de deus?
EDUARDO: Ué como assim “como assim”? De que forma eu poderia
estar falando se não sobre a mamata da vida burguesa João? Eles são ricos, não
trabalham, tem status social, e o mais importante... Usam meias importadas! O
que mais alguém podia querer?
JOÃO: Não Eduardo, você está sendo muito ganancioso... Acho
que eu não preciso dessa vida toda, estou feliz com meu emprego.
EDUARDO: Ah! “Tá” certo João, e você acha que eu tenho cara
de otário pra acreditar nisso?
JOÃO: Olha Eduardo, eu não quero te magoar, mas pensando
bem... Até que você parece meio..
EDUARDO: Foi uma pergunta retórica, seu imbecil!
JOÃO: Ah taaa.. Agora eu entendi.
EDUARDO: Também, mais burro que esses botões aqui ( mostra
botões) Era de se esperar que não entendesse..
JOÃO: Ei burro não!
EDUARDO: Tá bem! Tanto faz, eu só acho que no fundo, bem no
fundinho você também queria poder ser o dono dessa indústria toda não é?
JOÃO: Já disse que não Eduardo, que chatice...
EDUARDO: Ah João, olha pra você! Vestido desse jeito
maltrapilho. Até hoje ninguém dessa indústria te presenteou com nenhuma peça de
roupa, nenhum casaco descente... E OLHA QUE A GENTE TRABALHA EM UMA FÁBRICA DE
CASACO, ENTÃO TEM CASACO PRA DEDÉU!
JOÃO: Ah, mas sou imune contra gripe, não preciso de casacos.
EDUARDO: (risos seguido de um suspiro) Ai João quem dera se
fosse só isso né? A tua bota é emprestada, tua meia tá furada, tua calça é
apertada, a tua camisa tá rasgada, a tua blusa desgastada, a tua cara mal lavada,
e o teu...
JOÃO: (Interrompendo) CHEGA Eduardo! Tá bom, eu já entendi
aonde você quer chegar... Acho meio materialista de sua parte, mas tudo bem.
EDUARDO: Materialismo João? Não viaja, não é materialismo
quando o MEU amigo, perto dos outros funcionários PARECE UM MENDIGO! Eu apenas
queria te ver bem vestido. Por isso pensei que você gostaria de ser “Ricaço”!
JOÃO: Pois se enganou meu caro, eu estou muito feliz aqui
sabe? Acho até que é muito pra mim. Minha família veio lá do fim do mundo. E
quem nasce nos campos, poucas chances têm de ser alguém na vida. Apesar do “papai”
e da “mamãe” quererem que eu os ajudasse com a enxada, eu preferi fazer a minha
parte na história, e usar a chave de fenda para servir a indústria, então
realizei um êxodo pra cá! Foi difícil, mas com sua ajuda estou aqui hoje trabalhando
forte e firme, enchendo de orgulho aqueles que um dia me botaram nesse mundão.
Por isso eu acho que...
EDUARDO: (ENORME BOCEJO) Já terminou?
JOÃO: QUE FALTA DE RESPEITO EDUARDO!
EDUARDO: Falta de respeito é você sendo chato, bicho grilo.
Quando você começa a abrir a boca pra falar abobrinha é desrespeito aos meus
ouvidos!
JOÃO: Seu grosso... (voltam a trabalhar)
EDUARDO: NÃO, MAS SÉRIO... Você NÃO PENSA NEM UM POUQUINHO?
JOÃO: Não Eduardo... Eu já te disse.
EDUARDO: Mas então você acha justo, as coisas continuarem
como estão?
JOÃO: Bem eu...
EDUARDO: A gente se mata mais de oito horas diárias, pra
chega um filho de papai e não precisar fazer nada?
JOÃO: Ah Eduardo, mas você sabe que não é bem assim... Mexe
muito com administração. Tem que ter cabeça pra negócios e...
EDUARDO: Ah me poupe João, até minha falecida vó, com todo
respeito, administra essa joça melhor que esses caras.
JOÃO: Então porque você não herdou uma multinacional da sua
vó, hein?
EDUARDO: Porque ela preferiu ficar tricotando invés de mexer
a bunda gorda dela. E é nesse ponto que eu quero chegar JOÃO! A sociedade é
imóvel, estática. Você pode não estar percebendo, mas agindo desse jeito você
esta fazendo parte de uma sociedade que não pensa. E se você por acaso tivesse
a oportunidade, você ia agir e mudar a história? Ou iria querer ser que nem a
minha avó?
JOÃO: Gordo e ranzinza? (risos)
EDUARDO: Olha quem decidiu ficar engraçadinho agora! Sinal
de que parou pra repensar, certo?
JOÃO: Ah Eduardo, sei lá. Talvez se o acaso permitir.
EDUARDO: Pois pode me chamar de acaso meu querido, porque eu vou tornar isso possível João! É isso aí eu estou gostando de ver, preciso de gente com atitude como você... (sobe no
banco) VAMOS REVOLUCIONAR A INDÚSTRIA! Chega dessa hierarquia toda para a
destinação da mão de obra. O proprietário tem que merecer por direito! Vamos
deixar de ser assalariados (sobe na mesa) Vamos mostrar pra esse patrão
salafrário do que somos feito, vamos desbancá-lo, ultrapassá-lo, vamos ser a
última Coca Cola da lavanderia!
JOÃO: O que é Coca-Cola?
EDUARDO: Produto de rico que lançou há pouco tempo, serve pra
desentupir pia e vaso, genial!
JOÃO: Isso deve ser tóxico...
EDUARDO: E se for João? Não é como se as pessoas fossem
beber isso... Enfim voltando ao foco.
(João presta atenção)
EDUARDO: Uma andorinha só não faz verão certo?
JOÃO: Certo... Mas você acha que duas fazem?
EDUARDO: Não, e é aí que eu pensei... “O que é melhor do que
a voz do povo para resolver as coisas”, não é mesmo? Se juntarmos a galera toda
desse setor, não precisa ser a indústria inteira, mas uma boa parcela que possa
prejudicar a produção... A gente podia fazer uma enorme greve... Ou melhor, um
MOTIM!
JOÃO: Ah Eduardo, um motim? Isso não é meio antiquado?
EDUARDO: “Antes de quadro” ou “depois do quadro” não importa
meu amigo, sempre funciona! Não há nada melhor que uma rebelião pra
descentralizar o poder. Ainda mais se o poder tá nas mãos desse Senhor “Augustus
Santana”, esse arrogantezinho de nariz empinado, esse aproveitador de
empregados, esse explorador insensível, esse ditador...
JOÃO: Eduardo, você tá muito boca dura cara.
EDUARDO: O que quer dizer?
JOÃO: Que você está falando muito e fazendo pouco...
EDUARDO: E porque você está pensando isso? Eu falo, mas é
muito sério, pretendo fazer tudo isso ainda hoje!
JOÃO: Então é bom você descer desse banco, começar a
espalhar a noticia e botar a boca no trombone, aliás, se odeia tanto o chefe
você devia ir falar tudo isso, Óh é na cara dele! Porque você reclamou tanto do
Augustus pelas costas hoje que a orelha dele deve tá vermelha-pimenta já!
EDUARDO: Ah você não entende nada de momentos históricos não
é mesmo? O líder das rebeliões tem que estar sempre em um lugar alto para que
todos os admiradores possam o ver.
JOÃO: Desse jeito o único que “vai te ver” é o inspetor
Jefferson.
EDUARDO: (repulso) Ah, esse é outro que me dá embrulho no
estômago, quando eu for o dono dessa “Bagaça”, ele vai ser o primeiro a ir pra
rua. Esse puxo saco de superiores... Aliás eu já falei o que eu acho do nosso
patrão?
JOÃO: (Se vira rápido e volta a trabalhar)
INSPETOR: (aparece de repente na cena atrás de Eduardo) Não
Eduardo, eu não ouvi ainda, você podia me dizer a sua opinião sobre o nosso
regente? (O inspetor dizia enquanto segurava um bloco de anotações) Até porque
eu não tenho nenhum registro seu aqui nessa indústria.
EDUARDO: Bom... É que... Eu. (pensativo) Estava dizendo que
o Augustus Santana é um excelente chefe, sempre pensa nos trabalhadores, faz
ótimos investimentos para empresa, e se projeta muito para o futuro, imagina
sempre o que vem a sua frente. (enquanto Eduardo dizia isso, João ria por
dentro)
JOÃO: (se vira segurando muito o riso) Ele também estava
dizendo do quanto ele gosta de trabalhar nessa indústria!
INSPETOR: Isso é verdade Eduardo?
EDUARDO: Sim, isso mesmo eu disseque trabalho todos esses
anos por que adoro esse lugar, eu passo todos os meus dias, muito feliz aqui, e
o salário? Sempre sobra no fim do mês.
INSPETOR: Uhumm *fala enquanto anota* E posso saber por que
você tá em cima desse banco? Dava pra ouvir sua voz do outro corredor.
EDUARDO: Bem é que eu estava faland...recla..tro-trocando
isso, trocando a lâmpada que queimou e o João é meio sensível visualmente e não
consegue ver esses botões todos sem luz não é mesmo (rindo nervoso enquanto
desce do banco).
JOÃO: Mas o meu setor é o dos...
EDUARDO: CALA A BOCA (sussurrando)
INSPETOR: Claro, claro troca essa lâmpada logo e voltem a
trabalhar, vocês não são pagos pra ficarem procrastinando em cima dos bancos
(sai da cena).
(João trabalha enquanto Eduardo anda de um lado pro outro resmungando)
EDUARDO: Droga, Eu cansei dessa palhaçada!
JOÃO: Na verdade eu estou é achando muito divertida hahaha.
EDUARDO: “Ai! O meu amiguinho achou engraçado o inspetor me
metendo à bronca”, pois saiba que se não parar de piadinha arrebento a tua fuça!
JOÃO: Também não precisa ser tão violento né Eduardo, guarda
isso pro patrão hahaha.
EDUARDO: É vai rindo, abobado... Quando for eu sentado na
cadeira estofada não vem beijar meus pés.
JOÃO: Com esse chulé bravo que eu sinto de segunda a sexta,
beijar seus pés com certeza é uma das coisas que eu quero evitar.
EDUARDO: Pois é, santo Deus. Não basta trabalhar como um
condenado, ganhar uma merreca, ter um patrão arrogante e um andarilho de
corredores muito do pela-saco, o meu próprio amigo, e colega de trabalho, tem
que ficar zombando de mim também, Porra João ATÉ TU BRUTUS?
JOÃO: Sem “vitimização” agora tá Eduardo? Eu já disse que
vou te ajudar nessa situação. Então me deixa aproveitar seus últimos momentos
como operário da empresa “Casacos e Cia”.
EDUARDO: Agora sim botei fé! Isso mesmo João, me ajuda com
essa parada que com certeza você só vai se “dar” bem... Pra começar precisamos
de chantagem, é o método mais eficaz pra se convencer alguém.
JOÃO: Mesmo é?
EDUARDO: Sim, eu estou sempre usando com as pessoas, tanto
diretamente quanto indiretamente.
JOÃO: PERAÍ... Você já me chantageou sem eu saber? (pergunta
sério)
EDUARDO: Não... Eu? Não... NÃOOOO (diz disfarçando) Enfim
preciso de um podre do nosso novo patrão.
JOÃO: Ué, você não sabe? (diz indignado)
EDUARDO: Não, saber eu sei. Estou te falando isso pra gente
decidir qual dos podres é pior, entendeu?
JOÃO: Ah tá. Bom, pra começar ele não tem experiência
nenhuma, né?... Então é bem o que você disse até agora, “herdeiro filhinho de
papai”. O segundo é que ele aumentou o dobro das taxas do custo das manutenções
maquinarias, e não tem fundos suficientes pra cobrir isso, ou seja, ele está
usando da nossa grana suada pra pagar o concerto dessas drogas (aponta pras
maquinas). E o terceiro: Ele tem o dedo frio pra caramba, as escolhas que ele
faz e as ações em que ele investe não estão dando retorno nenhum, nesse ritmo
vamos acabar indo pelo ralo. Se antes o gráfico de estatísticas da Indústria
parecia uma rampa, agora parece um “Bungee Jumping”!
EDUARDO: Bom, bom saber... Aliás, João... Você sabia de tudo
isso e até agora não fez nada a respeito? Você tem MUITO potencial, potencial
suficiente pra ser... (pausa) Vice-presidente dessa cooperação!
JOÃO: (sem jeito) Ah, não foi nada... Apenas procuro ser um
cara Informado.
EDUARDO: E você é popular aqui nessa etapa inicial de
produção de casacos?
JOÃO: Você quer dizer, se eu conheço todo mundo?
EDUARDO: É...
JOÃO: Sim, conheço desde você, até a área do Juca.
EDUARDO: Poxa! Até o Juca que fica lá do lado da porta de
emergência?
JOÃO: Sim, sim conheço a Anastácia, o Gustavo, o Luís, o
Luís Gustavo, a Julia, o Pedrão, a Carolzinha, o George, a..
EDUARDO: Tá bom, tá bom, eu já entendi que você muito
sociável! Agora eu quero que você pegue todas as técnicas de persuasão que eu
venho usando em você até agora, e aplique em todos eles. Improvise! Suba na
mesa, saia gritando, sussurra aos ouvidos, faça comparações, zoe a empresa, você
tem que os fazer verem que trabalham em um circo e que eles, são os verdadeiros
palhaços! Crie Indignados e Revoltados, e até alienados que seguem o fluxo
precisamos de massa de manobra, barulho, e é pra já! Eu vou indo agora pra ir
lá falar com o chefe... (indo por um lado).
JOÃO: Mas Edu...
EDUARDO: Não venha com “mas” agora João! Não vai me impedir
estou indo a sala dele e...
JOÃO: É que esse...
EDUARDO: E vou voltar de lá juntamente com nossa vitória!
JOÃO: PORRA EDUARDO!
EDUARDO: O que foi dessa vez?
JOÃO: É que a sala do chefe fica pro outro lado sua anta!
(aponta pra direção oposta)
EDUARDO: Ah claro sim, sim! Eu
vou por aqui e você vai por lá e no vemos na porta do escritório dele depois.
(cada um sai de cena por um lado)
(Encontra-se na cena o inspetor e o Augustus Santana)
AUGUSTUS SANTANA: E então fez o que te pedi?
INSPETOR: Sim está tudo aqui anotado senhor!
AUGUSTUS SANTANA: Oh, muito bem (pega o caderno e da uma
olhada lendo atentamente)
INSPETOR: E então o que você pretende fazer?
AUGUSTUS SANTANA: Eu lhe pedi essa lista porque eu preciso
realizar algumas demissões
INSPETOR: Ah foi por isso que você pediu as características
de trabalho de cada funcionário agora faz sentido, e que conclusão você chegou?
AUGUSTUS SANTANA: Parece que eu vou ter que demitir...
(pausa) Alguns “Eduardos”...
INSPETOR: O Eduardo? Mas eu achei que eu tinha escrito tudo
que ele disse sobre você aí, ele gosta do emprego e acha você um excelente
patrão...
AUGUSTUS SANTANA: Pois é e teve mais alguém com essa
característica?
INSPETOR: Bom, não senhor, mas é que...
AUGUSTUS SANTANA: Por isso mesmo, posso não ser muito bom
nas finanças, mas não precisa ser um gênio pra saber que nenhum ser humano
normal que tenha essa carga horária e esse salário precário, vai ter um
desempenho e uma opinião positiva dessas. Ele está tramando alguma... Tenha
certeza disso.
INSPETOR: Então o que pretende fazer agora?
AUGUSTUS SANTANA: Pretendo não, eu vou fazer. Chame o
Eduardo da Rocha agora mesmo, vou despedi-lo.
INSPETOR: (pausa) Err... Sim, tudo bem senhor.
(Alguém bate na porta)
AUGUSTUS SANTANA: Quem é?
EDUARDO: Eduardo Rocha se apresentando senhor, nós
precisamos conversar!
INSPETOR: Ele está mesmo aqui...
AUGUSTUS SANTANA: Viu? Eu lhe falei, que bom que ele veio
por conta própria, economizo tempo, pode se retirar agora Inspetor Jefferson.
INSPETOR: Sim senhor. (abre a porta e sai de cena encarando
o Eduardo)
(Eduardo vai se aproximando do Senhor Augustus Santana lhe
apontando o dedo)
EDUARDO: Olá Senhor Augustus! Vim aqui para...
AUGUSTUS SANTANA: Eduardo, você está demitido. (fala em tom
breve e sério)
EDUARDO: ...Mas, mas... Droga! (pausa) Essa era a minha fala,
pensei no meu diálogo com o senhor por minutos e agora isso.
AUGUSTUS SANTANA: O que quer dizer com isso?
EDUARDO: Ué? Se você falou que eu estava demitido e eu disse
que essa era a minha fala... Eu ia te demitir, né!
AUGUSTUS SANTANA: Isso não faz o menor sentido. Primeiro, eu
não trabalho pra você. Segundo: você não tem mais nada a ver com o “Casacos e
Cia”. Por favor, se retire (vira-se de costas)
EDUARDO: Não, eu acho bom você se retirar!
AUGUSTUS SANTANA: Você ainda está aqui? Olha se você não quer
sair por bem, vai sair por mal então.
EDUARDO: Pois tente.
AUGUSTUS SANTANA: (pega o Walkyman) Guardas! Quero que
venham até minha sala agora.. Respondam! Alô? Alô?
EDUARDO: (risada maliciosa)
AUGUSTUS SANTANA: O que você fez desgraçado?
EDUARDO: “Viva la Revolución”! Está ouvindo os gritos ali
fora? São todos os funcionários insatisfeitos com a sua regncia, se não podemos
ter nossa própria mão de obra, tomamos ela com nossas próprias mãos que usamos
para fazer obras... (para pra pensar no que disse) Nossa isso soou poético!
AUGUSTUS SANTANA: Isso é crime estadual! Eu vou colocar
todos vocês na cadeia! Vocês não tem direito nenhum aqui, são apenas peões
desse tabuleiro.
EDUARDO: Não mais meu amigo, os trabalhadores acordaram e
você vai dormir agora.
AUGUSTUS SANTANA: Ah não vou não, Você pode ter conseguido
pessoas do seu lado, mas eu posso demitir todos e recontratar novamente, ou
melhor, vou vender essa fábrica pra qualquer gringo idiota!
EDUARDO: Ah meu amigo eu sei de seus podres, você está
encurralado.
AUGUSTUS SANTANA: Não sei do que está falando.
EDUARDO: Corrupção meu caro, isso sim é crime estadual.
Desvio de verbas, redução do salário mínimo para os trabalhadores, taxas
abusivas, jornada de trabalho excessiva e situação precária em todos os setores
de produção dessa indústria. Isso te deixava no mínimo umas duas décadas no
xadrez, ou zerava a sua conta bancária meu chapa, você está contra a parede
agora.
AUGUSTUS SANTANA: Não, não pode ser...
EDUARDO: Cheque mate!
Agora você tem duas opções, assine as papeladas ou mofe na cadeia.
AUGUSTUS SANTANA: Tudo bem eu assino, eu assino. Maldito...
Raposa esperta, eu nunca pensei que um simples operário pudesse ir contra o
dono de sua indústria... Que humilhação (assinando os papeis). E agora?
EDUARDO: Agora você tem duas opções: Ou sair por aquela
porta e nunca mais voltar, ou ser “promovido” ao homem que traz o cafezinho.
Caso sua escolha seja a segunda você tem 10 minutos pra me trazer um café
expresso bem forte com chantilly e uma cereja em cima. HAHAHA.
AUGUSTUS SANTANA: Maldito,
desgraçado, Você vai pagar. Pode ter vencido agora, mas eu tenho muitas filiais
por todo país que eu herdei do meu pai! Vou crescer novamente então eu te
destruo com minhas próprias mãos, essa não será a última vez que verá o burguês
renomado Augustus Santana, filho de Paulo Borges Santana! Aproveite sua
revolução patética. (sai de cena)
(Entra João na cena, Eduardo está sentado na cadeira
estofada com os pés sobre a mesa)
JOÃO: MUITO BEM EDUARDO! Você tinha razão, vencemos!
Conseguimos finalmente mudar essa realidade tão bruta!
EDUARDO: Pois é já pode começar essa nova etapa da empresa,
beijando meus pés hahaha
JOÃO: HÁ-HÁ (ri sarcasticamente)
EDUARDO: Isso meu amigo é o poder da chantagem e da
persuasão! Espero que um dia você aprenda a usar tão bem quanto eu!
JOÃO: Na verdade meu amigo, eu queria lhe dizer uma coisa.
Você foi apenas uma alavanca pra tudo isso, pode até ser o ícone que represente
o inicio dessa mudança no futuro, mas sem mim você não seria nada.
EDUARDO: (Se endireita na cadeira) Que história é essa
agora, hein João? Foi um trabalho em equipe e.. .
JOÃO: Equipe uma ova!
Eu consegui convencer o povo todo a se revoltar, você tem ideia do quanto essa
gente se contenta com pouco? Deus do céu, quanta alienação junta! E os guardas
então? Aqueles caras tinham quase dois metros de altura. Sem contar que todos
os podres que você soube do Augustus Santana fui eu quem lhe passei... Você
acha que eu sou “informado” meu amigo? Sou muito mais que isso, eu tenho
arquivos e informações confidenciais de qualquer um desse lugar, que vai do
chefe até o faxineiro da rua, e isso obviamente inclui você. Pois bem, quem é a
raposa agora meu caro, por trás de tudo isso?
EDUARDO: Não... Não pode ser... Tanto trabalho pra... Você
não vai fazer isso comigo né João? Você?... Um cara tão humilde e...
JOÃO: Tem razão Eduardo, você é um bom amigo não vou te
demitir dessa Indústria.
EDUARDO: Ufa.
JOÃO: Vou te dar duas alternativas, você pode sair por
aquela porta e não voltar nunca mais, ou ir buscar o café...
EDUARDO: (PAUSA) Volto em dez minutos senhor. (sai
resmungando mil coisas).
JOÃO: (Analisa os papéis sobre a mesa, estica seus pés, e
olha para o palco como se avistasse toda sua cooperação de “Casacos e Cia”,
dali) O tolo aprende errando, o sábio aprende com o erro dos tolos. E eu
aprendi que... “Cia e Casacos” é um nome horrível deus do céu! “Olá eu sou
João, dono da Casacos e cia” que horror, vamos começar mudando por aqui... E
ali... Fazer assim e assado... (enquanto ele diz isso as cortinas vão se
fechando)
FIM
Autor da
peça: Arthur A. Dobler